Como um planejador financeiro pessoal somos constantemente consultados acerca do que deve ser feito em uma específica situação.
E eu penso que isso também acontece com você, com maior ou menor intensidade, portanto, aprender como dar bons conselhos para um cliente é relevante em nossa carreira.
Este é um texto mais orientado a forma do conselho do que ao conteúdo do seu conselho, mas afirmo que aprenderá maneiras de dar conselhos melhores ao construí-los a partir do que proponho.
Disclaimer: não sou o cara mais sábio que há e minha pretensão não é parecer isso então, leia com atenção, mas saiba que algumas das coisas que escrevo serão úteis, outras não.
O primeiro conselho para dar um bom conselho é: Não é sobre você, não se trata de você e não é a oportunidade para você se mostrar quem gostaria de ser sabendo que ainda não é.
O que as pessoas querem é a sua visão e não a sua versão. E isso é bem diferente...
Então, o primeiro passo para construir bons conselhos e posteriormente entregá-los é estar mais interessado no que o seu cliente fala do que esperar o momento para mostrar o quão interessante você é.
Muitas vezes aproveitamos a oportunidade que um cliente nos dá pedindo um conselho para destilarmos o nosso ego e isso fere profundamente a qualidade do que:
(1) o conselho se trata;
(2) a aplicação do conselho na vida do cliente.
Remover o ego do conselho faz com que a qualidade de sua sabedoria se intensifique.
Dá próxima vez que for convidado à dar um conselho para alguém, lembre-se destes simples passos para que seja sobre o cliente e não sobre você:
- O cliente quer a sua visão e não a sua versão.
- Ouça o que ele(a) diz estando genuinamente interessado e não apenas esperando o momento certo para falar algo que irá lhe promover como alguém interessante.
- Remova o ego do seu concelho.
- O mundo não gira ao seu redor.
Eu não sei como você é, mas eu sou um cara rápido para julgar e mais lento para aprender...
Estamos julgando o tempo todo e isso faz parte do nosso mecanismo de defesa e sobrevivência, mas não deve fazer parte do nosso processo de construção e entrega de um conselho.
O papel de nosso cérebro é fazer basicamente 2 tarefas.
A primeira delas é garantir a nossa sobrevivência. A segunda é garantir que a primeira seja feita gastando o menor número possível de calorias.
E é no cumprimento desta segunda tarefa que entra o julgamento. O julgamento é mais direto, mais rápido e menos calórico do que o aprendizado. Não estou dizendo que seja mais preciso. Apenas que é mais ágil
Disso sai a “regra” que diz que os primeiros segundos de um interação interpessoal é o que importa para decidirmos se devemos ou não noa aproximar (independentemente do contexto: se social, se amoroso, se comercial, o que for que seja) de alguém.
Então, o que fazemos para garantir a nossa sobrevivência com baixo gasto calórico? Julgamos! E além disso, em menor ou maior intensidade, sentenciamos.
Ainda não te convenci? Imagine a seguinte situação:
- Você recebeu um lead e está com o nome completo da pessoa.
- “Deu um Google” no nome dele(a).
- Encontrou uma rede social do(a) lead e a foto de capa é uma menção à uma orientação política completamente divergente da sua.
- Pronto, julgou! E mais, já sentenciou!
O primeiro passo é compreender que o primeiro julgamento é praticamente instantâneo e não intencional e que o antídoto para isso é o tempo dedicado ao aprendizado do contexto alheio.
Isso se conecta imediatamente com o tema acima, o que diz que um conselho não é sobre você, mas sim sobre o seu cliente. Que não é sobre a sua versão, mas sobre a sua visão.
Busque aprender mais e melhor sobre o cliente e não faça isso apenas com um questionário ou com perguntas estruturadas. Faça isso através do relacionamento.
Relacione-se com a pessoa que lhe pediu um conselho, busque compreender melhor o contexto del(e)a, a origem da situação que é objeto do conselho, o que realmente “está em jogo” e articulem, juntos, possíveis consequência do que está em jogo.
Uma estrutura que gosto e recomendo usar para aprender mais sobre alguém e/ou uma situação e dar um bom conselho é esta:
No contexto do que está sendo perguntado / consultado, pergunte:
Um pedido de conselho geralmente existe pois quem pede está passando por uma situação turbulenta. Começar com uma pergunta positiva gera um “choque” que ajuda a nos tirar de uma provável postura defensiva e limitada.
Por incrível que parece, esta simples pergunta pode já representar a totalidade de um conselho.
Mês passado um cliente me ligou dizendo que desejava falar sobre uma situação que enfrentava no casamento . Eu estava com a agenda toda planejada naquela semana então combinamos de conversar por video conferência em um intervalo de 30 minutos em que ambos conseguiram se organizar.
A situação basicamente era um pedido de conselho sobre o que fazer para se entenderem melhor na parte financeira e o cônjuge estar “on board” no planejamento. Após apresentar o objeto do conselho, este cliente começou a destilar todas as dificuldades que ele enxergava na esposa para fazer o que precisava ser feito.
Ouvi atentamente por cerca de 20 minutos. Disse que sentia por estarem passando por um stress potencialmente causado pela clareza que um bom planejamento demanda e o perguntei: “o que há para celebrar neste contexto de dificuldade?”
De cara o cliente estranhou a pergunta, mas continuei: “o que há para celebrar neste contexto que enfrenta?”
Então ele me disse: “estamos conversando mais, mas a conversa parece não ter um rumo. Eu quero convencê-la e ela quer me convencer... Não chegamos à lugar algum... Mas estamos conversando mais..."
Foi quando ele mesmo chegou a conclusão de que deveriam usar o simples fator de estarem conversando mais como algo positivo e ajustar o estilo da conversa.
Terminamos a call comigo convidando-o à conhecer mais e melhor sobre as motivações para a falta de motivação da esposa, mostrando-se mais interessado do que interessante e disse que em nossa próxima sessão de planejamento apresentaria à ambos algo que mudaria o estilo da conversa deles.
(E algo que mostrarei aqui também, logo mais)
Muitas vezes esquecemos de celebrar as coisas que temos (por menor que sejam), e começar a dar um conselho com uma simples pergunta como: ”o que há para celebrarmos neste contexto” é uma forma poderosa de evitarmos isso.
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